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TDAH: Comorbidades associadas


Em 50% dos casos, as pessoas com TDAH, podem vir a apresentar duas ou mais condições médicas associadas a ela, o que chamamos de comorbidade, como a depressão, uma vez que a pessoa pode se sentir isolada e ter baixa autoestima.

No entanto, até o diagnóstico correto ser feito, os médicos encontram dificuldades, já que os sintomas podem ser generalizados e de difícil identificação, logo, o quadro acaba evoluindo. 

As principais comorbidades associadas ao TDAH são as seguintes:

1) Distúrbio de aprendizagem

O Distúrbio de Aprendizagem pode ser uma incógnita no início, pois boa parte dos sintomas tende a demonstrar situações aparentemente normais. Com isso, há um momento de equívoco, em que o quadro da criança não é analisado como deveria. Inclusive, o aspecto sintomático é um dos principais motivos que leva a essa dúvida inicial.

Sintomas: rendimento escolar abaixo do esperado, indisciplina para realizar atividades, recusa para se dedicar às atividades em sala de aula. A melhor maneira para conseguir detectar o Distúrbio de Aprendizagem é por meio da observação quanto à preponderância dos sintomas.

2) Transtorno Opositivo Desafiador

Conhecido como TOD, este transtorno é caracterizado por um comportamento que requer muita cautela. Sobretudo, no quesito orientação. Nesse caso, o aluno nunca deve ser advertido com gritos ou atitudes mais drásticas. Afinal, isso tende a piorar a situação, uma vez que a criança se sentirá motivada a desafiar ainda mais o adulto.

Sintomas: indisciplina, tendência a desrespeitar regras, irritar as pessoas, agitação, irritação, discussão com adultos, atribuição de seus erros a terceiros, etc. Além do auxílio de uma equipe interdisciplinar, estabelecer condições para o diálogo e a negociação com a criança/adolescente é uma alternativa plausível.

3) Transtorno Bipolar

Essa situação pode ser mais comum do que se pensa em pessoas com TDAH. Dessa forma, torna-se difícil distinguir um quadro de TDAH mais severo em pessoas com o Transtorno Bipolar tardio, por exemplo. Além disso, uma das principais características é a alternância entre depressão e momentos de euforia.

Sintomas: hiperatividade, irritabilidade, impulsividade e baixa atenção. Há que se ressaltar que embora o Transtorno Bipolar tenha uma frequência maior entre pessoas de 15 a 25 anos, alguns casos isolados em crianças podem existir.

4) Transtorno de Conduta

Quando a pessoa convive com o TDAH e o Transtorno de Conduta, ela tende a apresentar um comportamento de indisciplina constante. Nesse caso, as pessoas podem ser mal interpretadas diante das condutas manifestadas.

Portanto, na escola, por exemplo, é extremamente importante que os educadores mantenham contato direto com a família e os terapeutas. Afinal, os sintomas tendem a preocupar aqueles professores que não estão preparados.

Sintomas: falta de empatia, crise de irritabilidade, rebeldia, comportamento ameaçador, tendência a contar mentiras, manipulação, outros. Dessa forma, é imprescindível a presença de especialistas para orientar as maneiras adequadas no trato com a pessoa.

5) Depressão

A Depressão também pode coexistir com o TDAH. Assim sendo, a pessoa convive com duas condições que requerem muita observação por parte dos especialistas, uma vez que ele pode enfrentar barreiras no percurso da vida cotidiana. Contudo, o diagnóstico inicial pode ficar comprometido, tendo em vista a dificuldade para distinguir a Depressão da reação pelo TDAH.

Sintomas: irritabilidade, impulsividade e baixa autoestima. Com efeito, na escola, por exemplo, o rendimento escolar também é um aspecto que pode sofrer algum impacto, pois a criança recebe a influência direta de toda essa situação.

6) Disforia Sensível à Rejeição (DSR)

O DSR é uma comorbidade do TDAH que nem sempre ganha o destaque que deveria, mas essa condição também merece espaço. Nesse caso, a pessoa pode sofrer com diversas situações aparentemente controladas.

Em outras palavras, uma situação que para muitos é facilmente resolvida pode ser diferente para ele. Com isso, a pessoa tende a achar que foi julgado e rejeitado por algo. Quando ele tem essa percepção, a pessoa sofre por conta da sensação de frustração.

Sintomas: sentimentos de desesperança e desespero; sentimento de vergonha, sensação de humilhação, pânico, irritabilidade e acessos de raiva.

7) Ansiedade

Não é incomum que pessoas que possuem TDAH também sofram com os sintomas de ansiedade. Essa combinação de transtornos, de ansiedade e TDAH, pode transformar a vida cotidiana em um grande e constante desafio. Apesar de muito comum na infância, o TDAH também se manifesta em adultos. E, segundo especialistas, normalmente ele vem acompanhado de ansiedade. Nem sempre os sintomas de ansiedade e TDAH desaparecem com o passar do tempo, e, na fase adulta, esse transtorno pode persistir em mais de 50% dos casos.

Tal cifra representa um grande impacto no aspecto clínico, funcional e da própria qualidade de vida do adulto. Eles também sofrem de tipos de ansiedade incapacitantes, que se desenvolve como resultado dos sintomas, que podem ser:

  • Dificuldades para organizar a vida diária.
  • Atrasos em compromissos de forma sistemática.
  • Esquecimentos frequentes.
  • Problemas para cumprir com prazos e responsabilidades.
  • Problemas nas finanças.
  • Distrações nas conversas.
  • Age de modo impulsivo na fala e no comportamento.
  • Dificuldade para iniciar ou finalizar projetos.

Outro problema é a impulsividade na idade adulta, que se caracteriza frequentemente da seguinte forma:

  • Término de relações de forma prematura.
  • Alterações de locais de trabalho constantes.
  • Ausência de paciência para diferentes atividades.
  • Perda do controle.
  • Consumo de substâncias entorpecentes.

8) Distúrbios de Linguagem

Um grupo significativo de pessoas com TDAH apresentam um quadro de dificuldades em compreender ou desenvolver vocabulário e estrutura gramatical. No entanto, grande parte desenvolve outros problemas tais como:

  • Dislexia: quando a pessoa apresenta dificuldade para ler ou para escrever;
  • Disgrafia: é a dificuldade para escrever;
  • Disfasia: quando a pessoa tem problema para falar.

Esses déficits linguísticos ficam evidentes na comunicação falada, escrita ou mesmo na linguagem de sinais. Em geral, as primeiras palavras e expressões podem surgir com atraso, o tamanho do vocabulário é menor e menos variado do que o esperado. As frases são mais curtas e menos complexas, com erros gramaticais, em especial as que descrevem o passado. Essa dificuldade na fala acaba interferindo de forma significativa no sucesso acadêmico, no desempenho profissional, na comunicação eficaz e na socialização.

Dislexia

É a dificuldade que aparece na leitura, impedindo o aluno de ser fluente, pois faz trocas ou omissões de letras, inverte sílabas, apresenta leitura lenta, dá pulos de linhas ao ler um texto, etc. Alguns sinais na escola:

  • Dispersão;
  • Fraco desenvolvimento da atenção;
  • Atraso do desenvolvimento da fala e da linguagem
  • Dificuldade de aprender rimas e canções;
  • Fraco desenvolvimento da coordenação motora;
  • Dificuldade com quebra-cabeças;
  • Falta de interesse por livros impressos;
  • Dificuldade na aquisição e automação da leitura e da escrita;
  • Pobre conhecimento de rima (sons iguais no final das palavras) e aliteração (sons iguais no início das palavras);
  • Desatenção e dispersão;
  • Dificuldade em copiar de livros e da lousa;
  • Dificuldade na coordenação motora fina (letras, desenhos, pinturas etc.) e/ou grossa (ginástica, dança etc.);
  • Desorganização geral, constantes atrasos na entrega de trabalho escolares e perda de seus pertences;
  • Confusão para nomear entre esquerda e direita;
  • Dificuldade em manusear mapas, dicionários, listas telefônicas etc.;
  • Vocabulário pobre, com sentenças curtas e imaturas ou longas e vagas.

Disgrafia

Normalmente vem associada à dislexia, porque se o aluno faz trocas e inversões de letras, consequentemente encontra dificuldade na escrita. Além disso, está associada a letras mal traçadas e ilegíveis, letras muito próximas e desorganização espacial e de raciocínio ao produzir um texto.

Alunos com disgrafia podem apresentar todas, ou algumas das seguintes caraterísticas:

  • Formação das letras pobre;
  • Letras muito largas, demasiado pequenas, ou com tamanho inconsistente;
  • Uso incorreto de letras maiúsculas e minúsculas;
  • Letras sobrepostas;
  • Espaçamento inconsistente entre letras;
  • Alinhamento incorreto;
  • Inclinação inconsistente;
  • Falta de fluência na escrita.

Disortografia

Tipo de dificuldade de aprendizagem relacionada à linguagem, caracterizada por um transtorno da escrita, incluindo inversões, aglutinações, omissões, contaminações, alterações internas da palavra e como consequência, desordem na categoria e estrutura da frase. A disortografia reflete um processo cognitivo da linguagem defeituoso e não se refere à falta de correção motora. 

Os sintomas da disortografia estão relacionados a numerosos erros de ortografia, manifestados logo que se tenham adquirido os mecanismos da leitura e da escrita. Muitas destas alterações convergem a disortografia com a dislexia, ao ponto de, para muitos autores, a disortografia ser apontada como uma sequela da dislexia. No entanto, a disortografia, assim como outros distúrbios de aprendizagem, não é considerada uma doença. 

Trata-se, de uma dificuldade que pode ser contornada com acompanhamento adequado, direcionado às condições de cada caso. Entre as causas da disortografia, suspeita-se que uma aprendizagem incorreta da leitura e da escrita, especialmente na fase de iniciação, pode originar lacunas de base com a consequente insegurança para escrever. Igualmente, numa etapa posterior, a aprendizagem deficiente de normas gramaticais pode levar à realização de erros ortográficos que não se produziriam se não existissem lacunas no conhecimento gramatical da língua.

9) Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) 

O TOC é caracterizado pela presença de obsessões e/ou compulsões.

Obsessões são pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que são vivenciados como intrusivos e indesejados, enquanto compulsões são comportamentos repetitivos ou atos mentais que um indivíduo se sente compelido a executar de acordo com regras que devem ser aplicadas rigidamente. Muitos indivíduos com TOC têm crenças disfuncionais. Essas crenças podem incluir senso aumentado de responsabilidade e tendência a superestimar a ameaça, perfeccionismo e intolerância à incerteza, importância excessiva dos pensamentos e necessidade de controlá-los.

10) Alterações de sono

As pessoas com TDAH podem desenvolver alguma alteração no sono. O termo engloba 10 transtornos que afetam a qualidade, o tempo e a quantidade de sono. O sofrimento e o prejuízo resultantes durante o dia, geralmente descrito como cansaço excessivo, são características centrais compartilhadas por todos esses distúrbios.

11) Modalidade Patológica de Aprendizagem

A modalidade sintomática (patológica) de aprendizagem pode estar sozinha ou associada a uma causa com comprometimento neurobiológico, como por exemplo, autismo, TDAH e demais síndromes, ou algum distúrbio, como por exemplo a dislexia, discalculia, entre outros. Neste caso, é de extrema importância que o diagnóstico seja realizado por um profissional de neuropsicopedagogia e um médico neurologista ou psiquiatra especializado no transtorno apontado nos testes neuropsicopedagógicos. São consideradas modalidades: 

  • Hipoassimilação: Pobreza de contato com o objeto de aprendizagem/conhecimento, esquemas de objetos empobrecidos. Incapacidade de coordenar estes esquemas, déficit lúdico e criativo, prejuízo da função antecipatória, da imaginação e da criação. Só aprende o que é de seu interesse; 
  • Hiperassimilação: Precocidade na internalização dos esquemas representativos, predomínio do lúdico e da fantasia, subjetivação excessiva. Desrealização do pensamento, resistência aos limites, dificuldades em assimilar regras, dificuldade para resignar-se;
  • Hipoacomodação: Não tem respeito ao ritmo, tempo da criança não obedece à necessidade de repetição de uma experiência, reduzido contato com o objeto, é mais lento que outras crianças para entender ou reproduzir determinada tarefa. Déficit na representação simbólica, dificuldade na internalização das imagens, problemas na aquisição da linguagem, falta de estimulação, abandono daquilo que não se aprende; 
  • Hiperacomodação: Superestimação da imitação, reduzido contato com a subjetividade, falta de iniciativa, obediência cega às normas, submissão, não dispõe de suas experiências anteriores. Superestimulação da imitação e falta de iniciativa.

12) Dificuldade de Interação Social

Muitas pessoas com TDAH apresentam dificuldades na interação social e precisam de ajuda para aprender a agir em diferentes tipos de situações sociais. 

Os distúrbios na área da sociabilidade incluem prejuízos nos comportamentos não verbais, na interação social, impossibilidade de desenvolvimento de relações sociais apropriadas especialmente com indivíduos da mesma idade, inabilidade em compartilhar interesses e satisfação com os outros.

13) Distúrbios Alimentares

As pessoas com TDAH podem apresentar comportamentos restritivos, seletivos e ritualísticos que afetam diretamente seus hábitos alimentares resultando em desinteresse e recusa para alimentação. Por outro lado, também é possível que desenvolvam compulsão alimentar e se alimentem de forma descontrolada.

Se achar necessário, é importante procurar um profissional de nutrição (nutrólogo ou nutricionista), mas este profissional deve ser especializado em TDAH para compreender este comportamento e auxiliar de forma mais eficaz. 


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É proibida a reprodução deste artigo ou parte dele sem prévia autorização da autora. Lei nº 9.610 de 19/02/1998, com alterações dadas pela Lei nº 12.853, de 2013. 

Se usar cite a referência:

SOUZA NEVES, Regiane. Entendendo o Déficit de Atenção e a Hiperatividade.  Souza & Neves Edições. Clube de Autores. 1ª edição. São Paulo, 2021 (ISBN: 978-65-5392-523-6)