Autismo e comportamento: Meltdown e Shutdown


Meltdown, também conhecido como colapso ou surto, é uma falta de controle emocional do indivíduo. Pode ser provocado por uma frustração ou estresse e se manifestar através de gritos, movimentos repetitivos, agitação, autoagressão ou agressão à outra pessoa. Depois disso a criança/pessoa se acalma. Parece que descarregou uma energia ruim e se tranquiliza. 

Shutdown, é um termo por vezes utilizado para nomear um comportamento reacional a uma sobrecarga emocional e sensorial, a situações estressantes e/ou de ansiedade extrema. Trata-se de um evento reacional que pode acontecer com qualquer indivíduo e em qualquer idade, porém, em pessoas com autismo pode ocorrer mais facilmente devido a alterações sensoriais, comportamentos mais inflexíveis e dificuldades de comunicação (o que as deixam mais vulneráveis para que se desorganizem). O termo vem da informática e refere-se a um comando capaz de “desligar o sistema”. 

No shutdown, a pessoa parece estar parcialmente ou completamente desligada/distanciada do momento, não respondendo a qualquer forma de comunicação, com o “olhar vazio”, respiração atípica (mais rápida ou lenta). Pode retirar-se do espaço (indo para seu quarto, por exemplo), deitar-se no chão; pode ainda perder a capacidade de se retirar da situação “limite” em que se encontra, mostrando-se paralisada, entre outras ações. Nas crianças com autismo, os shutdowns não devem ser confundidos com birras ou encarados como enfrentamento; tratam-se de comportamentos involuntários reacionais e nunca serão utilizados como “tática para se conseguir algo” ou “não fazer algo que não querem”. No shutdown, diferentemente do meltdown, as emoções ficam internalizadas. 

As motivações e o “limite” para o shutdown ou meltdown parecem ser os mesmos, o que muda é a forma de expressão comportamental, porém ambas mostram que há uma situação de sofrimento que precisa ser olhada com maior cuidado. Em ambas situações, acolha a criança/pessoa com carinho e segurança. Diga que está tudo bem, deixe a criança/pessoa respirar, a acompanhe para um local diferente, com menos pessoas e estímulos, retire objetos perigosos do seu entorno para que não se machuque ou machuque outras pessoas e espere se acalmar. 

Quando estiver calma a abrace, dê amor e compreenda seus sentimentos. Normalmente nos preocupamos mais com comportamentos externalizantes, então fica o alerta para comportamentos internalizados em pessoas com autismo. Eles também necessitam de avaliação para identificarmos fatores desencadeantes e intervirmos a fim de evitar sofrimento e prejuízos no desenvolvimento dessas pessoas. Uma vez identificados os fatores desencadeantes do comportamento agressivo, podemos trabalhar em terapias pois nem tudo poderá sempre ser evitado. 

Questões que desregulam a pessoa com autismo deverão então ser trabalhadas e o apoio dos pais, familiares, amigos, da escola e da equipe multiprofissional é fundamental para o manejo comportamental. Essas dicas são válidas não somente para os professores, mas também para os pais e para todos os que lidam com autistas diariamente. Entender um autista é muito complexo, mas com carinho, amor e empatia, tudo é possível.


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Se usar cite a referência:

SOUZA NEVES, Regiane. Transtorno do Espectro Autista: Conhecer, Diagnosticar, Intervir e Orientar. Souza & Neves Edições. Clube de Autores. 3ª edição. São Paulo, 2023 (ISBN: 978-65-5392-356-0)