Uma queixa comum no ambiente escolar refere-se a como podemos lidar com o comportamento agressivo das crianças com autismo em sala de aula. Antes de qualquer coisa, é importante ficar claro que o autismo não causa agressividade. Pessoas diagnosticadas com autismo, crianças e adultos, não são mais agressivas do que pessoas de desenvolvimento típico. Porém, em algumas ocasiões, tal como todos nós, crianças e adultos diagnosticados com autismo também ficam frustradas e podem exibir "comportamentos que aparentemente são agressivos".
Além disso, por conta de dificuldades de comunicação, pessoas com o diagnóstico de autismo podem usar do comportamento agressivo como uma forma de expressar suas necessidades, preferências e vontades, ou seja, se comunicar. É importante lembrar, no entanto, que há casos em que a segurança e bem-estar do próprio indivíduo, colegas ou profissionais pode estar ameaçada por conta da intensidade e gravidade de alguns desses comportamentos. É, portanto, necessário avaliarmos constantemente se temos as condições que precisamos em sala de aula para que possamos manter adequadamente a segurança de todos.
O termo comportamento agressivo é bastante amplo e pode se referir a muitas formas de comportamento. O termo autoagressão se refere aqueles comportamentos agressivos que são dirigidos ao próprio indivíduo. Pessoas diagnosticadas com autismo, podem machucar a si próprias através de comportamentos de autoagressão como tapas no próprio rosto, socos, mordidas, beliscões, batidas da cabeça contra o chão etc.
Além disso, comportamentos menos intensos podem também caracterizar autoagressão, pois, com o tempo, podem produzir lesões significativas. Vemos isso em casos em que os indivíduos exibem comportamentos muito repetitivos ou persistentes como, por exemplo, esfregar o queixo no ombro, coçar ou cutucar a orelha, cutucar feridas etc. Sempre que um autista se mostrar agressivo, entenda isso como um sinal de alerta.
O autista nunca é agressivo a toa. Muitos não sabem lidar com a sobrecarga sensorial, com os vários estímulos diários e isso pode fazer com que eles se tornem agressivos. A agressão é o resultado de uma ação, ou seja, uma reação à ação do outro. Não chame a atenção do autista em tom de voz alta, nunca revide ou ignore.
Deixar de castigo não vai adiantar e inclusive o deixará ainda mais nervoso. Esse é apenas um sinal de que algo está errado, que algo não vai bem. Procure compreender, procure enxergar os motivos. Tire ele do foco do problema e o acolha, diga que sabe o que está sentindo e que se acalme. Para os 18 autistas não verbais é ainda mais difícil, pois não conseguem colocar para fora o que sentem de forma verbal e a única maneira que eles têm é se expressando corporalmente, onde acabam sendo agressivos.
É comum as crianças se indisporem durante o horário de recreio ou de atividades estressantes e serem agressivas, aparentemente, sem razão, mas na verdade ela pode estar se sentindo confusa e em conflito com todas as informações que recebe neste momento. Ao invés de chamar a sua atenção ou colocar de castigo, dê a ela um espaço, as vezes ela só precisa de um tempinho para se regular e aliviar a sobrecarga.
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Se usar cite a referência:
SOUZA NEVES, Regiane. Transtorno do Espectro Autista: Conhecer, Diagnosticar, Intervir e Orientar. Souza & Neves Edições. Clube de Autores. 3ª edição. São Paulo, 2023 (ISBN: 978-65-5392-356-0)