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Avaliação em adultos com Transtorno do Espectro Autista (TEA)


A maioria dos adultos sem diagnóstico passaram toda vida sendo tratados como neurotípicos (que não é acometido por nenhuma neuropatologia ou psicopatologia), mas com "comportamentos estranhos". Em grande parte da literatura sobre este tema, muito se fala da criança autista, e esquece-se que a criança cresce e sendo o autismo não curável, logo teremos adultos autistas com ou sem diagnósticos, por este motivo é necessário entender a fundo suas características a fim de promover informações adequadas, bem como diagnósticos e intervenções efetivas. Existem diferentes fatores que indicam um possível diagnóstico de autismo no adulto. 

A OMS Organização Mundial de Saúde prevê que há pelo menos 76 milhões de famílias com AUTISTAS no mundo e que desta quantidade pelo menos 5 milhões estão no Brasil. Hoje é possível termos essas referencias pela quantidade de informações e profissionais cada vez mais capacitados para a compreensão das características autísticas. No entanto, ainda há muito o que se descobrir. Pesquisadores concluíram que quando uma criança é diagnosticada com autismo, às vezes o mesmo comportamento é encontrado em um dos pais (geralmente o pai). 

Sabendo-se que o autismo é uma condição de ordem genética, os pais são solicitados pelos profissionais que assistem a criança, a procurar saber se existe algum caso de autismo na família – o que, em geral, é o caso. Não raramente, um dos pais acaba sendo identificado como autista. Mas o autismo adulto não só é identificado desse modo. Os cientistas analisaram as situações de inicio do autismo. Observaram que mudanças de fase da vida de um autista adulto, não diagnosticado, eram momentos em que o diagnóstico era mais frequente. Em períodos de transição, muita coisa pode mudar. Por exemplo:

• o adolescente que esteja se tornando independente;

• o homem/mulher que se torna pai/mãe pela primeira vez; 

• um problema sério de relacionamento; 

• mudança de casa, cidade, emprego; 

• chegada da aposentadoria. 

Além disso, o adulto pode estar "sofrendo" com alguns sintomas que podem remeter a evidência de autismo levando-o a procurar um especialista. Que são: 

Transtornos emocionais 

No autismo, quanto mais cedo é fechado o diagnóstico, melhores são as chances de evolução do paciente por meio do trabalho multidisciplinar, envolvendo terapia ocupacional, neuropsicologia ou neuropsicopedagogia, fonoaudiologia, fisioterapia, equoterapia, hidroterapia, neuropediatria, psiquiatria etc. O momento ideal para a descoberta e início do tratamento é na infância, mas os adultos também precisam de acompanhamento, com enfoque especial nas dificuldades que enfrentam. Além disso, eles podem apresentar transtornos emocionais decorrentes da sua condição. Não é incomum que tenham sintomas depressivos, ansiedade exacerbada, TOC, estresse ocupacional e problemas no casamento, por exemplo. Ainda, há barreiras no relacionamento interpessoal que procuram melhorar de alguma forma, mas nem sempre são compreendidos. 

Problemas de interação 

Geralmente, o adulto nessas condições apresenta uma dificuldade maior para compreender regras sociais, compreender expressões faciais subliminares, estabelecer e manter contato visual e, até mesmo, dar continuidade a um diálogo. Para ele é mais complicado interagir com outras pessoas e entender ironias, metáforas e piadas. Como se não bastasse, não dominam a própria linguagem corporal. 

Dificuldade de socialização 

Autistas adultos também estão mais sujeitos a enfrentarem problemas de socialização e isso acaba impactando negativamente em suas vidas afetivas. Normalmente, não demonstram ou recebem afeto com naturalidade, não costumam falar de seus próprios sentimentos, nem se envolvem com interesses alheios. Ainda, têm uma grande dificuldade para se colocar no lugar do outro. 

Limitações laborais e acadêmicas 

No trabalho, tem algumas limitações. Ele tende a desempenhar melhor suas funções sozinho do que em equipe, tem dificuldades para falar em público e se expressar em entrevistas e reuniões profissionais. Embora existam exceções, na parte acadêmica não tem um bom desempenho, pois seu foco é restrito. Prefere estudar sozinho, não consegue desenvolver trabalhos em equipe. 

Alterações sensoriais 

O autista adulto tem maior sensibilidade a estímulos sonoros, sente de maneira mais aguçada e sofre com barulhos muito altos e ambientes agitados. Além disso, fica incomodado com roupas apertadas e alimentos com o sabor diferente do que está habituado. Não raro, apresenta hipersensibilidade ao toque, às luzes e aos odores. São situações em que pode ficar evidente que uma pessoa, que até então conseguia funcionar relativamente bem dentro de acordo com os padrões de normalidade, passa a ter muitos problemas que não consegue resolver da maneira que a maior parte dos neurotípicos consegue. Neste caso, acabam por apresentar um quadro de ansiedade extrema, como Síndrome de Burnout ou um desconforto de ordem psicoemocional que não consegue ser solucionado com a terapia tradicional, aplicada nestes casos. Neste caso, o tratamento padrão para tratar o problema não apresenta resultado, ou o quadro geral não se encaixa no suposto distúrbio. Quando isso acontece, exames mais extensos podem confirmar um diagnóstico de autismo. Os exames efetuados para diagnosticar o autismo adulto devem ser conduzidos por profissionais qualificados a fazê-lo, como psiquiatras, psicólogos da saúde (com habilitação para diagnosticar e medicar, se for o caso), neuropsiquiatras e neuropsicopedagogos ou neuropsicólogos. Devido ao fato do autismo ser um distúrbio do desenvolvimento, a problemática vem da infância, ou seja, é necessário obter-se informação sobre essa fase do autista adulto. Assim como as fases seguintes, do desenvolvimento infanto-juvenil o início da vida adulta, para chegar-se ao diagnóstico final. 

Para as crianças, existem testes e formulários que facilitam o fornecimento do diagnóstico. No entanto, o diagnóstico dos adultos ainda está em desenvolvimento, sendo bem mais complexo de ser alcançado. Como cada caso é um caso, o diagnóstico de um determinado adulto pode ser bem mais demorado do que de um outro. O que atrapalha o processo, muitas vezes, é a falta de informação prévia do adulto examinado. Um exame diagnóstico de qualidade deve ser minucioso, consistindo numa pesquisa de psicodiagnóstico, uma pesquisa psiquiátrica (com médico psiquiatra) e em sessões com o adulto a ser examinado, assim como de pessoas importantes em sua vida – parceiro/a, e parentes chegados. Às vezes já existe bastante informação sobre a pessoa. Mas acontece com frequência, de alguns testes não serem passíveis de execução ou dos dados da infância serem desconhecidos. Não raramente parentes, parceiros ou pessoas bem próximas do autista são entrevistadas pelo profissional examinador, a fim de ter uma impressão o mais precisa possível, sobre o passado da pessoa a ser diagnosticada. Em alguns casos, o diagnóstico é dado mesmo assim, com base num teste mais limitado. O problema de fechar-se o diagnóstico em adultos é justamente por que muita informação da sua infância não se encontra à disposição. E esta informação é essencial para a qualidade do diagnóstico. Neste caso um psicanalista pode ser importante para colher estas informações inconscientes. 

O autismo está em todos os lugares: nas ruas, nas lojas, na empresa, no escritório e em casa. Não possuir um diagnóstico não significa que o autismo não exista. No entanto, o desejo de saber se é caso de autismo, sempre deve ser espontâneo. O adulto em questão deve julgar se a obtenção do diagnóstico irá somar à sua vida (reconhecimento, alívio etc.) ou prejudicá-lo em seu dia a dia, de alguma forma, de acordo com a maneira que preferir conduzir sua própria vida. 

A experiência ensina que os adultos diagnosticados acabam por beneficiar-se do mesmo. Finalmente encontram respostas para perguntas que vinham fazendo durante toda sua vida. Muitos deles participam de grupos virtuais, trocando experiências com outros adultos autistas; outros tornam-se ativistas, dando palestras e surpreendendo suas audiências pelo jeito extremamente intrigante de encararem o mundo. A maioria, no entanto, encontra o reconhecimento dele mesmo e da família, de que não é “louco”, nem “impossível de se conviver”. Ele ou ela é autista, ou tem autismo, como alguns preferem dizer. Não são doentes, mas, sim criaturas extremamente fortes e corajosas por terem “sobrevivido” décadas tentando entender e adaptarse a outra forma de ser. 

O diagnóstico é clínico e para isso serão necessários os seguintes passos: 

- Entrevista com a pessoa; 

- Revisão de registros médicos, psicológicos e / ou escolares relevantes se houver; 

- Análise das habilidades sociais, comunicação verbal e não verbal; 

- Medição do funcionamento adaptativo; 

- Análise das alterações sensoriais e dos comportamentos repetitivos; 

- Análise das crises e dos comportamentos disruptivos; 

- Entre outros de igual relevância para o diagnóstico.

Precisamos discutir e refletir a complexidade das avaliações de diagnóstico para crianças e adultos no espectro do autismo, identificar e descrever tratamentos eficazes e destacar a importância do julgamento profissional e do uso de dados para orientar as decisões de tratamento.


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É proibida a reprodução deste artigo ou parte dele sem prévia autorização da autora. Lei nº 9.610 de 19/02/1998, com alterações dadas pela Lei nº 12.853, de 2013. 

Se usar cite a referência:

SOUZA NEVES, Regiane. Transtorno do Espectro Autista: Conhecer, Diagnosticar, Intervir e Orientar. Souza & Neves Edições. Clube de Autores. 3ª edição. São Paulo, 2023 (ISBN: 978-65-5392-356-0)