Autismo e Estereotipias


Um dos eixos de comportamento mais preocupantes e significativos no Transtorno do Espectro Autista (TEA) são as estereotipias. A estereotipia é um comportamento caracterizado por ações repetitivas e de grande interesse do autista sem que haja um objetivo ou uma finalidade ao final. As estereotipias são respostas repetitivas que visam exclusivamente a auto estimulação, isto é, a criança se estimula sozinha para buscar sensações físicas prazerosas e uma regulação sensorial do organismo. Mudanças e situações novas geram medo, ansiedade, irritabilidade e podem evocar comportamentos disruptivos. 

A Estereotipia é um ajuste e não um “problema”. Em resumo, a estereotipia é qualquer comportamento motor, verbal ou emocional que acontece de maneira repetitiva e sem motivo aparente para quem observa. Uma das coisas mais importantes que precisamos entender é que se tratam de comportamentos regulatórios consequentes à alguma necessidade da criança ou adulto, que não está sendo suprida por algum motivo – muitas vezes desconhecido. 

A estereotipia não causa desconforto para a criança, adolescente ou adulto, pelo contrário é uma forma do autista se autorregular e se acalmar. Os exemplos mais comuns de estereotipias observadas em crianças são: necessidade exacerbada de movimento, flapping (movimento de balançar as mãos), rocking (balanceio), pular na cama, sofá, no chão, na frente da TV, girar sobre o próprio eixo; olhar objetos que giram; movimento repetitivo para frente e para trás; correr sem função ou objetivo claro; andar na ponta dos pés; bater a cabeça, morder-se, movimentar dedos e mãos na frente dos olhos, etc. Para melhorar o repertório comportamental é importante ensinar habilidades nas áreas do brincar (habilidades sociais, verbais e motoras envolvidas nas brincadeiras funcionais e que geram interação social); atividades de vida diária (higiene e autonomia); comunicação (comportamentos verbais vocais ou por troca de pistas visuais); e habilidades acadêmicas (leitura, escrita, conceitos matemáticos, etc.). 

Também faz parte deste quadro, algumas "manias" como por exemplo enfileirar objetos, organizar, classificar, selecionar, ordenar. Para ajudar o autista a lidar com isso, precisamos combinar diversas estratégias. Uma delas é o reforço diferencial, ou seja, precisamos reforçar positivamente (com elogios, atenção e acesso a itens de interesse) os comportamentos adequados e funcionais ensinados nas diversas áreas do desenvolvimento. Paralelamente, é preciso retirar as consequências reforçadoras dos comportamentos inadequados. Logicamente, só poderemos retirar as consequências sobre as quais temos controle, ou seja, não dar atenção, não falar sobre estes comportamentos, etc. 

Então, a melhor forma de diminuir as estereotipias é redirecionando a atenção da criança para outra atividade de seu interesse, de preferência outra atividade que seja incompatível com a estereotipia, ou seja, que utilize a mesma parte do corpo. Por exemplo, se a criança está balançando as mãos (flapping) podemos apresentar um jogo e quebra-cabeça que ela adore e começar a montar na frente dela, para atraí-la espontaneamente.


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Se usar cite a referência:

SOUZA NEVES, Regiane. Transtorno do Espectro Autista: Conhecer, Diagnosticar, Intervir e Orientar. Souza & Neves Edições. Clube de Autores. 3ª edição. São Paulo, 2023 (ISBN: 978-65-5392-356-0)