Caminhos para o ensino: METODOLOGIA WALDORF

A pedagogia Waldorf se desenvolveu na Alemanha, no início do século 20, com base nos entendimentos do austríaco Rudolf Steiner (1861-1925) a respeito do potencial do ser humano para se desenvolver em todos os seus aspectos: físico, psicossocial (anímico) e espiritual. 

É uma concepção holística, que foi aplicada na forma de metodologia de ensino pela primeira vez numa escola mantida pela fábrica Waldorf-Astória para os filhos de seus operários, e que desde então vem sendo adotada em diversas partes do mundo. Entre os diferenciais das instituições de orientação waldorfiana destaca-se o respeito aos ciclos do desenvolvimento humano e as diferentes características dos indivíduos. 

Por essa razão, não existe a repetição de série, pois as crianças seguem uma escala de desenvolvimento pensado por faixa etária. Como explica Antonio Ponce, coordenador da Federação das Escolas Waldorf no Brasil (FEWB) e professor em uma instituição localizada no Alto da Boa Vista, em São Paulo, isso está relacionado à ideia de que o ser humano é um ser que pensa, age e sente.  “São três aspectos fundamentais no processo educacional”, explica. “A criança é compreendida como um alguém que também aprende com o ‘fazer’ e o ‘sentir’, por isso há um grande enfoque nas atividades corpóreas, artísticas, artesanais e musicais”, detalha Ponce. 

Conforme ela vai amadurecendo, é inserido o cultivo do pensar, que é quando entram em cena os exercícios de imaginação e a narração de histórias, entre outras atividades. Somente mais tarde são trabalhadas também as relações de sentido, que demandam capacidade de abstração e uso do juízo. Mergulho na disciplina Outro diferencial é o ensino por épocas. Durante um período inteiro, que pode ser um mês, ocorrem apenas aulas de matemática na parte da manhã (nos demais períodos, são realizadas outras atividades e aulas). Na sequência, somente português, e assim sucessivamente. “Isso permite ao estudante fazer um mergulho intenso na disciplina. Além disso, ele participa ativamente do processo, realizando pesquisas e discutindo o tema”, declara Ponce. 

Essa configuração muda no ensino médio, quando as aulas de português, matemática, línguas, música e educação física se tornam constantes. O conteúdo de cada época é registrado pelo aluno em um caderno, que se torna seu principal material de estudos.  Vale ressaltar que as atividades corpóreas, artísticas e artesanais não se restringem à educação infantil. Elas continuam fazendo parte da grade curricular e são complementadas por ações que buscam a integração com o mundo externo. “Fazemos visitas a museus, assistimos a peças de teatro e levamos os jovens para conhecer empresas e indústrias”, sinaliza Ponce. “Cuidamos do que vai florescer mais tarde, não estamos preocupados apenas com a alfabetização precoce ou com o vestibular. 

O mais importante é propiciar ao aluno oportunidades de se conhecer e vivenciar os mais variados aspectos da vida e, com isso, a si mesmo e seu projeto de vida”, esclarece. Sobre as avaliações, elas são rea­lizadas considerando a assiduidade, a execução das tarefas, a superação e o envolvimento dos alunos no grupo social. O processo culmina com a realização de avaliação descritiva do aluno feita pelo professor no final do ano letivo. “As provas são aplicadas apenas a partir do sexto ano, mas sem o intuito de constituir o único parâmetro avaliador”, acrescenta o coordenador da FEWB. O especialista René Simonato Sant’Ana-Loos complementa: “O método Waldorf não ignora as questões conteudistas da aprendizagem, apenas também se reporta às outras esferas, sobretudo às afetivas e éticas”.  


Papel dos professores Quanto aos professores, eles são parte fundamental e atuam como representantes do ser humano que apresentam, para os alunos, o que as pessoas são capazes de fazer naquela área específica do saber, do criar, do fazer. Com essas considerações, Ponce defende que a educação waldorfiana cria condições para as crianças se desenvolverem em qualquer direção. “Temos um potencial enorme para criar coisas novas. Isso não pode ser reduzido, do contrário se perde. Podemos objetivar, mas jamais afunilar as escolhas”, finaliza o especialista.  Apesar das vantagens que oferece, a pedagogia sofre eventualmente preconceitos por apresentar diferenças marcantes em relação ao modelo de ensino tradicional, como afirma Sant’Ana-Loos. 

Além dos contrastes de metodologia, há muitas vezes embates de valores. “Existe um esforço para superar a saturação de valores sociais voltados às conveniências de uns em detrimento de outros – competição, busca pelo capital, a substituição do ser pelo ter, por exemplo. Isso nem sempre é bem visto”, pontua. Por essa razão, o especialista considera fundamental o alinhamento dos pais com a filosofia da escola. 

PROFESSOR: tem a função de representar o ser humano e todo seu potencial de desenvolvimento. 

ALUNO: é entendido como ser que age, pensa e sente. As atividades são desenvolvidas de acordo com essas faculdades e evoluem conforme o amadurecimento da criança.  

AVALIAÇÕES: consideram o envolvimento do aluno, a execução das tarefas e sua assiduidade. As provas são aplicadas apenas a partir do sexto ano.  

CARTILHAS: são fontes de consulta. O principal material é o caderno utilizado pelo aluno para registrar o conteúdo das disciplinas.  

AMBIENTE: as salas simulam casas, com cozinha própria. Ocorrem muitas atividades práticas.