Intervenção terapêutica em adultos com Transtorno do Espectro Autista (TEA)


Para orientar o tratamento, serão estabelecidos os objetivos a serem alcançados com os quais visam descrever aspectos gerais, norteadores para o tratamento individualizado.

O Projeto Terapêutico deverá ser minuciosamente traçado para que o autista possa encontrar qualidade de vida e desenvolvimento.

Objetivos do Projeto Terapêutico:

  • Promover melhor qualidade de vida, autonomia, independência e inserção social, educacional e laboral.
  • Identificar habilidades preservadas, potencialidades e preferências de cada paciente, bem como áreas comprometidas (o que, como, o quanto);
  • Compreender o funcionamento individual de cada paciente, respeitando seus limites e suas possibilidades de desenvolvimento;
  • Desenvolver uma proposta vocacional e profissional onde o paciente se sinta engajado no projeto de vida;
  • Elaborar e desenvolver um programa individualizado de tratamento por meio da aprendizagem de novas habilidades, ampliando os repertórios de potencialidades e reduzindo comportamentos mal adaptativos ou disfuncionais;
  • Desenvolver ou melhorar as habilidades de autocuidado, propiciando maior autonomia;
  • Desenvolver habilidades sociais, com o objetivo de melhorar o repertório social dos pacientes para proporcionar interações sociais mais positivas. Quando necessário, desenvolver ou melhorar habilidades básicas de interações sociais, como, contato visual, responder a um cumprimento por gestos, etc;
  • Melhorar a qualidade do padrão de comunicação, seja verbal ou não verbal. Alguns recursos adicionais podem ser utilizados para possibilitar a comunicação;
  • Reduzir ou extinguir repertórios inadequados e comportamentos mal adaptativos, que dificultam a interação social ou aquisição de novas habilidades, como agitação psicomotora, comportamentos auto ou heteroagressivos e estereopias;
  • Realizar orientações frequentes aos familiares de modo a inseri-los no programa de tratamento, proporcionando novas situações de aprendizagem, não apenas durante as sessões, mas tendo estas pessoas como coterapeutas, reproduzindo as orientações recebidas e possibilitando a replicação dos comportamentos adequados em outros contextos. Terapia de casal pode ser muito importante para encontrar harmonia após o diagnóstico.

Para os adultos, o espectro também pode ser diagnosticado com uma variação de limitações e possibilidades, como leve, moderado, severo, asperger, savant entre outros. Os direitos sociais também estão garantidos por lei.

Terapias como Yoga, Mindfulness, meditação vêm sendo cada vez mais procuradas, não apenas para enfrentar rotinas diárias exaustivas mas também como terapia para depressão, ansiedade e Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). 

Essas técnicas conhecidas como ‘Mind-Body Therapies’ buscam a conexão entre o corpo, mente e saúde. Recentes publicações mostram que até 30% dos pacientes com TEA fazem alguma terapia envolvendo ‘Mind-Body Therapies’. Alem disso, mais de 80% dos pais de pacientes com TEA usam técnicas relacionadas a essas terapias diariamente (como, por exemplo, respiração profunda) com seus filhos. Os resultados positivos podem ser relacionados à ansiedade, depressão, estresse e qualidade do sono.

Sobre a técnica do Mindfulness, vários estudos mostraram melhoras em parâmetros emocionais dos pacientes, tanto para aqueles pacientes que realizaram sessões individuais como os que estavam acompanhados. Um estudo especificamente indicou o tempo de no mínimo nove semanas para que os primeiros avanços comportamentais pudessem ser notados. Um dos pacientes envolvidos em um estudo relatou que as sessões o ensinaram a manter-se calmo em situações como a de esperar o metrô chegar, mesmo com muitas pessoas correndo perto dele e com muito barulho.

Após sessões de meditação, os pacientes demonstraram melhoras comportamentais em sala de aula ou no ambiente de trabalho além de menos ansiedade e hiperatividade. É importante salientar que os estudos esclarecem que não são usadas metáforas durante as sessões (por exemplo, ‘esvazie a sua mente’), visto que os pacientes podem ter dificuldades de compreensão por serem literais.

As direções  futuras relacionadas a essas técnicas são promissoras em pacientes com TEA. Este estudo salienta que é possível essas terapias estarem presentes na rotina de pacientes com o objetivo de melhorar diversos parâmetros comportamentais, emocionais e de autoconhecimento para mente e corpo. Inclusive, auxilia muito na diminuição de estereotipias, sobrecarga sensorial e transtornos compulsivos.

Psicanálise e plasticidade: A plasticidade do cérebro pode ser definida como a capacidade que o cérebro possui de se reorganizar, de modificar sua estrutura em resposta aos estímulos que recebe do meio ambiente externo. Isso possibilita a evolução do potencial neuronal, ou seja, o desempenho dos neurônios responsáveis por atuar em atividades como linguagem, raciocínio lógico, coordenação motora e habilidades sociais. Esse tratamento só é possível porque a psicanálise acredita na plasticidade do cérebro, ou seja, na sua capacidade de se modificar. Nos anos 1970, acreditava-se que essa plasticidade só acontecia nos primeiros anos de vida. Dessa forma, após os 3 ou 4 anos de idade, seria impossível mudá-lo, pois ele se transformaria em uma estrutura rígida. Hoje, já é argumentada a plasticidade do cérebro ao longo de toda a vida. Portanto, se torna possível fazer com que um quadro adquirido na infância seja modificado com os estímulos adequados.

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Se usar cite a referência:

SOUZA NEVES, Regiane. Transtorno do Espectro Autista: Conhecer, Diagnosticar, Intervir e Orientar. Souza & Neves Edições. Clube de Autores. 3ª edição. São Paulo, 2023 (ISBN: 978-65-5392-356-0)