Caminhos para o ensino: METODOLOGIA CONSTRUTIVISTA

Participar ativamente do próprio aprendizado por meio da experimentação, realização de pesquisas, busca por soluções e o desenvolvimento do raciocínio – assim deve ser a postura do aluno que aprende segundo os princípios do modelo construtivista. 

Nessa concepção, o estudante não recebe o conhecimento como algo pronto e acabado. Pelo contrário, ele toma parte no processo e é figura central, construtor de seu próprio aprendizado. As origens dessa metodologia, muito difundida no Brasil, estão nos estudos do psicólogo suíço Jean Piaget (1896-1980), que concluiu que as estruturas lógicas das crianças são diferentes das dos adultos e que as práticas pedagógicas devem respeitar essas diferenças, propondo atividades adequadas a cada estágio do desenvolvimento intelectual. 

Mas não foi Piaget quem criou o termo construtivismo, e sim a psicóloga argentina Emilia Ferreiro, que na década de 1970 fez a ponte entre a teoria e a prática pedagógica.  “No Brasil, as ideias construtivistas começaram a ser conhecidas e discutidas nos anos 1980, mas só se difundiram realmente quando foram tomadas como referencial teórico para a formulação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, ambos publicados pelo Ministério da Educação (MEC) em meados dos anos 1990”, conta Zélia Cavalcanti, coordenadora de uma pós-graduação na área, em São Paulo. 

Hoje, no entanto, há diversas instituições que seguem a linha pedagógica. Além de considerar que as crianças “aprendem do jeito delas”, ou seja, de acordo com suas estruturas lógicas, os idealizadores da teoria também mostraram que a interação com o mundo externo é fundamental.  Por esse motivo, noções como volume, quantidade e proporções surgem do contato do indivíduo com o meio em que vive. Como a experimentação é essencial, como explica Denise Tardeli, professora no Curso de Pedagogia da Universidade Metodista, em São Paulo, busca-se despertar o interesse do aluno para sempre tentar integrá-lo ao processo de aprendizagem.  

A sistematização e a padronização são adotadas com parcimônia. Por outro lado, situações familiares são valorizadas, bem como os conhecimentos que o aluno traz consigo. Esses saberes vão sendo reconstruídos, aprofundados e desenvolvidos. “Dentro dessa proposta, a criança põe em jogo tudo que sabe e pensa sobre o conteúdo da atividade, resolve problemas e toma decisões em função do que se propõe a produzir”, resume Zélia.  

A rotina das instituições construtivistas, porém, não tem diferenças marcantes em relação às demais. “O importante não é o que os alunos realizam, mas sim o sentido que as atividades têm para o processo de ensino-aprendizagem em curso”, reforça. Embora o estudante tenha uma atitude ativa nesse processo, isso não diminui a figura do mestre. O professor promove o processo de construção do conhecimento e, ao mesmo tempo, age de forma intervencionista para que os objetivos definidos no currículo escolar sejam cumpridos. “Ele não pode limitar-se a criar ambientes ou situações estimulantes sob o risco de cair em propostas espontaneístas, como as que eram frequentes nas décadas de 1970 e 80”, pontua Zélia. A pedagoga Denise concorda e enfatiza a importância de a instituição trabalhar com profissionais qualificados e alinhados com os preceitos da teoria. “O professor precisa saber o que está fazendo para não haver problemas”, alerta.  

Lidar com os erros Quanto à avaliação, Zélia explica que elas têm caráter formativo e são feitas durante todo o processo de aprendizagem. “Isso não significa dizer que o construtivismo não inclua, em momentos pontuais, propostas de caráter somativo, como são as provas”, acrescenta.  Os erros são encarados de forma natural e parte do processo – e podem ser importantes para apontar caminhos. “Eles expressam aquilo que o aluno ainda não aprendeu ou aquilo que o professor procurou ensinar a todos, mas não conseguiu. 

Portanto, são indicadores dos conteúdos que precisam ser retomados em classe com todos ou alguns estudantes”, afirma Zélia.  Como resultado, as crianças que crescem em um ambiente construtivista tendem a ser tornar mais independentes, segundo os especialistas, uma característica que será vantajosa não apenas durante a fase escolar, mas também na vida profissional. A pedagoga Denise conclui: “O sujeito se desenvolve numa perspectiva crítica, argumentativa e moralmente colaboradora. 

Trabalhar com situações-problema, nas quais as crianças vivenciam, discutem, fazem uma tomada de consciência frente a questões do cotidiano, só pode formar seres autônomos”. 

PROFESSOR: é um mediador e promove o processo de construção do conhecimento. 

ALUNO: figura central, ele faz suas próprias descobertas e é estimulado a participar de experimentações para construir seu próprio saber.  

AVALIAÇÕES: são feitas continuamente pelo professor e também por meio de exames.  

CARTILHAS: não são recomendadas por conterem uma linguagem padronizada e por sistematizar o conhecimento.  

AMBIENTE: os alunos trabalham em grupo e interagem continuamente, pois o contato com o mundo externo é visto como parte fundamental do desenvolvimento intelectual.