Caminhos para o ensino: METODOLOGIA DEMOCRÁTICA

Como o nome sugere, essa linha pedagógica se caracteriza por oferecer aos alunos liberdade de escolhas e participação na tomada de decisões. Muitas vezes também é chamada de humanista e se inspira na Summerhill School, fundada em 1921, na Inglaterra, pelo educador Alexander Sutherland Neill. Atualmente, a instituição é gerenciada por sua filha, Zoë Readhead, que define a escola como um lugar onde o sucesso não é atestado por notas obtidas em provas. 

Em Summerhill, todos têm o direito de defender suas escolhas por meio de votação e os próprios alunos decidem quais atividades farão no dia. O modelo se sustenta no princípio de que os jovens têm plena capacidade de autogestão e que a ausência de coerções beneficia o desenvolvimento do senso de responsabilidade, inclusive sobre o próprio processo de aprendizagem.

A Escola da Ponte, criada em Portugal na década de 1970, é outro modelo importante. Nessa instituição, os alunos não são divididos por idade ou séries, que, aliás, não existem. Eles estudam em grupos heterogêneos e cumprem o programa de trabalho passado pelo professor, que atua como um assessor dos alunos, ajudando-os em suas pesquisas e estimulando debates. Quando finalizam, realizam autoavaliações. Tudo é votado em assembleia e os problemas de indisciplina são tratados entre eles, sem a interferência de adultos. 

Na prática

No mundo todo, ainda são raras as instituições que adotam esse modelo pedagógico, cerca de 500, e entre elas há muitas variações. Em Heliópolis, na periferia de São Paulo, há uma escola municipal de ensino fundamental (EMEF) que integra esse seleto grupo. Sua estrutura é composta por quatro grandes salões, onde cabem, por turno, em torno de cem crianças e jovens. 

A estrutura é seriada, porém, sem a clássica divisão por turmas A, B e C. Os professores trabalham em equipe e dão aos alunos um roteiro de estudos com um prazo para ser cumprido. “São planos de aula adaptados à realidade dos estudantes”, informa Braz Rodrigues Nogueira, diretor da EMEF. “As cartilhas são adotadas, porém, os mestres trazem muito material externo para complementar”, diz. 

Em cada salão há uma comissão de alunos, eleitos por voto, responsáveis por gerir o espaço. “Eles observam o que atrapalha a organização e a concentração e propõem medidas para superá-las”, conta. Assim como na Escola da Ponte, os conflitos não são resolvidos pelos adultos. “Recentemente, uma comissão da 5ª série convocou um pai para uma reunião. Fiquei admirado em ver como eles trataram o caso com tamanha profundidade e respeito”, recorda. 

Pensando em aumentar ainda mais a participação democrática, a EMEF criou os cargos de ‘Prefeito’ e ‘Vereador’ da escola, postos que serão ocupados pelos próprios alunos a partir de uma votação da qual participarão até as crianças da 1ª série. “A partir desse processo, eles vão elaborar suas próprias regras de convivência”, declara.

Braz ressalta que, por trás desses e de outros bem-sucedidos projetos, foi preciso muito empenho por parte da equipe para viabilizar a transição para esse modelo pedagógico. O processo começou em 2007 e ainda está em andamento. “Um desafio ainda não superado é o que fazer com as avaliações. Elas ainda são realizadas, mas temos necessidade de encontrar outros modelos”, declara. A escola também enfrenta resistências ideológicas. “Entendemos a criança como um ser integral, completo, competente, capaz de se organizar individual e coletivamente. Ela não é um ser menor, mas ainda há quem pense assim”, lamenta.  

Célio Cunha, docente da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UNB), concorda com esse ponto de vista e acredita que isso impede a disseminação do modelo no país e também em outros lugares do mundo. “Lamentavelmente, a preocupação com os valores econômicos continua a ser predominante. Mas nosso século demanda uma nova mentalidade e profunda crença nos valores da liberdade e da democracia. Não se pode reduzir o processo educativo aos valores de mercado. A valorização da vida e da existência é fundamental em nossos dias”, analisa. 

Na opinião de Cunha, o modelo de Summerhill não tem condições de ser generalizado, mas acredita que é possível para as escolas adotarem pelo menos algumas de suas orientações, mesmo dentro daquelas mais tradicionais. 

PROFESSOR: não conduz o programa de ensino, tarefa que cabe ao aluno. Estimula debates, esclarece dúvidas, promove a curiosidade e o desejo de aprender e assessora os alunos. 

ALUNO: é autônomo, com liberdade para decidir como cumprirá o programa de aula passado pelo professor. Participa de decisões por meio do voto e assume responsabilidades diversas na escola. 

AVALIAÇÕES: são feitas pelos próprios alunos e, quando realizadas pelos professores, somam-se a um conjunto maior de ferramentas de avaliação.

CARTILHAS: podem ser utilizadas, mas como fontes de consulta. 

AMBIENTE: algumas escolas que seguem a linha não têm paredes e os alunos estudam em grupos, que podem ser heterogêneos.