Em salas com cerca de 20 alunos, crianças de diferentes idades estudam juntas. Elas trabalham em grupo e buscam cumprir o plano de aula dado pelo professor, porém, cada uma segue seu ritmo. Se há necessidade, os mais velhos orientam os mais novos e os mestres, que não têm uma mesa fixa num ponto da sala, observam o desempenho dos estudantes buscando atuar como facilitadores do conhecimento.
Este é o ambiente das escolas montessorianas, que adotam a linha pedagógica criada pela italiana Maria Montessori (1870-1952), disseminada no mundo inteiro como uma metodologia focada no desenvolvimento do respeito, da autonomia e da responsabilidade. O entorno é parte fundamental desse processo e, muitas vezes, a sala de aula pode até reproduzir a casa da criança, como explica a especialista Delcy Lacerda de Oliveira, docente no Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências Sociais e Agrárias (FAIT), em Itapeva (SP). “No lugar onde seria a cozinha, o aluno aprende a preparar seu próprio alimento. Nos quartos, eles leem e descansam quando têm vontade”, exemplifica.
O objetivo disso é criar condições mais ricas de aprendizagem e trabalhar as características centrais do método montessoriano. Para estimular a independência e o senso de responsabilidade, os alunos “administram” o cumprimento do plano de aula dado pelo professor. “É o oposto de uma sala tradicional, onde todos fazem a mesma atividade juntos. Mas isso não quer dizer que os estudantes fazem o que querem. Isso é um mito. Eles apenas fazem as lições de forma diferente, no ritmo deles”, esclarece a pedagoga. Assim, na mesma classe, pode haver crianças do mesmo nível realizando atividades diferentes. “O ritmo de apreensão do currículo pode ser moldado às habilidades e competências individuais e de pequenos grupos, permitindo que diferentes velocidades aconteçam ao mesmo tempo, sem perda de qualidade.
Esta característica permite a vivência da verdadeira inclusão, já que a marca da classe é a diversidade”, complementa Edimara de Lima, diretora pedagógica de uma escola particular localizada na zona sul de São Paulo. Senso de coletividade Os materiais didáticos são táteis, coloridos e atraentes e ajudam a criança a visualizar conceitos como soma e proporção. Outra característica é que eles são compartilhados, um detalhe que também trabalha o senso de coletividade, como ressalta Delcy. Além de cumprir o conteúdo estabelecido pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), as escolas montessorianas têm disciplinas exclusivas. “Na Educação Infantil, por exemplo, são realizadas atividades de Vida Prática, que são exercícios para desenvolver a motricidade ampla e fina, assim como a civilidade (posturas do conviver).
Já no Ensino Fundamental, uma exclusividade é a utilização da disciplina História Geral desde os anos iniciais, o que desperta uma motivação incrível para esta área do conhecimento”, diz Edimara. O professor acompanha o tempo todo o cumprimento das tarefas e faz intervenções pontuais quando vê necessidade, porém, busca estimular a autocorreção.
Eles também identificam e trabalham as dificuldades de cada criança para que elas possam evoluir. “A grande característica do professor montessoriano é a observação mediada pela ciência. Por isso, a formação dos docentes deve ser preocupação constante da escola”, declara Edimara. Avaliação contínua Quanto às provas, elas podem ser aplicadas, ou não, conforme o critério de cada escola. Seja qual for a opção, os mestres avaliam continuamente a produção dos alunos ao longo de todo o processo. Quando os exames são utilizados, o resultado não tem a função de categorizar, mas sim orientar o professor para o trabalho a ser desenvolvido.
O uso de materiais didáticos padronizados também é eletivo, porém, não costuma ser adotado. As especialistas são unânimes ao afirmar a importância do alinhamento dos princípios montessorianos com os da família. “Ao efetuar a matrícula, os pais estão fazendo uma escolha e, nesse momento, assumem o comprometimento de colaborar”, ressalta Delcy. A questão é importante pelo impacto que a educação pode ter na formação do indivíduo, daí a necessidade de compartilhar os mesmos valores. A formação dos professores é outro pronto crítico. A pedagoga informa que os docentes devem necessariamente ter uma especialização para que o trabalho seja bem-sucedido e possa atingir as metas a que se propõe.
PROFESSOR: atua como um facilitador do conhecimento. Observa o desempenho dos alunos e trabalha com cada um individualmente, respeitando suas diferenças.
ALUNO: tem liberdade para determinar a forma como o plano de aula será cumprido. Faz as atividades em seu ritmo e convive com crianças de outras idades na mesma sala.
AVALIAÇÕES: são feitas continuamente pelo professor e também por meio de exames.
CARTILHAS: não são adotadas com frequência. O uso de materiais concretos é priorizado.
AMBIENTE: algumas salas podem simular o ambiente de uma casa, o que enriquece a vivência em grupo e as possibilidades de desenvolvimento.