Entendendo as Altas Habilidades/Superdotação e a Hiperlexia


Altas Habilidades/Superdotação

Altas Habilidades (AH) também conhecida como Superdotação (SD), é caracterizada pelo alto desempenho em uma ou mais áreas de conhecimento, e se destacam em níveis de maior ou menor impacto intelectual, acadêmico, criativo, social, psicomotor e de talento especial. Segundo a Organização Mundial de Saúde, 3% a 5% da população brasileira possui AH/SD. 

A família e a escola devem estar atentos a uma possível falta de sincronia entre desenvolvimento intelectual, afetivo e físico. Por exemplo, uma criança superdotada pode apresentar leitura precoce, porém ter dificuldade em manipular um lápis, pois suas habilidades motoras não estão totalmente desenvolvidas. 

É essencial, portanto, acompanhar o desempenho da criança, registrando habilidades e interesses demonstrados ao longo dos primeiros anos de escolarização, oferecendo várias oportunidades estimuladoras e enriquecedoras ao seu potencial. 

Pode acontecer muitas vezes de termos um filho ou um aluno superdotado e nem se quer percebermos. Uma criança talentosa presa em uma sala de aula entediante vai perder rapidamente essa capacidade. Como tal, eles podem até ser considerados como tendo pouco foco em um ambiente típico de sala de aula. Porém, pode acontecer o contrário, de acharmos que temos um filho ou aluno superdotado, mas na verdade são as habilidades e competências adquiridas ao longo do tempo, sem que haja a superdotação. 

A habilidade superior demonstrada por uma criança pode ser resultado de uma estimulação intensa por parte das pessoas significativas de seu ambiente, como pai, mãe, irmãos etc. Ao atingir a idade escolar, o desenvolvimento dessa criança pode se normalizar e ela passar a apresentar um desempenho semelhante aos alunos de sua idade. Por isso, nem sempre uma criança precoce poderá ser caracterizada como superdotada. 

AH/SD têm influência da herança genética, além de fatores ambientais, seja através da família ou da escola, que podem contribuir para que estes traços sejam desenvolvidos ou depreciados.

As crianças e adolescentes com AH/SD variam tanto em habilidades cognitivas quanto em nível de desempenho e personalidade. Por exemplo, uma criança pode ser muito desenvolvida na sua capacidade linguística, enquanto outra criança pode ser melhor desenvolvida na sua capacidade matemática, enquanto isso, ambas podem ter dificuldades na interação social. E isso faz parte de uma forte característica que é o hiperfoco na AH/SD.

É importante entender que alta habilidade ou superdotação não é autismo. Mas há autistas, geralmente diagnosticados com nível 1 de suporte (anteriormente chamadas síndrome de Asperger ou síndrome de Savant) que podem ter uma inteligência muito acima da média, ou seja, pode ser que além do autismo também seja superdotado ou possuir alta habilidade em alguma área do conhecimento.

Crianças com AH/SD também carregam dificuldades escolares. Sim, você leu certo! O denominado "fracasso escolar" para crianças superdotadas é geralmente atribuído à falta de atenção, ao descuido, à frustração e, acima de tudo, ao aborrecimento. Quando não são bem interpretadas podem desenvolver depressão, ansiedade, pânico e tantos outros transtornos.

Tal conceito leva à análise de um critério moderno de inteligência, o modelo atual defende que a inteligência humana é múltipla e se divide da seguinte forma:

- Linguística: habilidades envolvidas na leitura e na escrita, um tipo de inteligência apresentada pelos poetas, escritores e compositores;
- Musical: habilidades inerentes a atividades de tocar um instrumento, cantar, compor;
- Lógico/matemática: habilidade de raciocínio, computação numérica, resolução de problemas, pensamento científico;
- Espacial: habilidade de representar e manipular configurações espaciais;
- Corporal/cinestésica: habilidade de usar o corpo inteiro ou parte dele para a realização de tarefas;
- Interpessoal: habilidade de compreender outras pessoas e contextos sociais;
- Intrapessoal: capacidade de compreender a si mesmo, tanto sentimentos e emoções, quanto estilos cognitivos e inteligência;
- Naturalística: habilidade de perceber padrões complexos no ambiente natural.

Hiperlexia

Certamente você já ouviu relatos de crianças que, desde bem novas, conseguiam ler algumas palavras mesmo sem antes ter passado pela alfabetização. Ou então, ouviu casos de crianças que aprenderam mais de uma língua estrangeira com muita facilidade. Muitos não sabem, mas essa facilidade e aprendizagem acelerada podem ser uma característica de Hiperlexia.

A Hiperlexia se trata de um desenvolvimento precoce de leitura que geralmente ocorre em crianças de 2 aos 5 anos de idade.

A hiperlexia pode ser entendida como um transtorno, que compreende sintomas como uma alta capacidade de leitura e uma espécie de obsessão por letras e números, porém acompanhada de uma espécie de lentidão em outras áreas do desenvolvimento. Esse transtorno pode ser entendido a partir de três características principais: capacidade precoce de leitura, dificuldade em lidar com a linguagem oral e uma inadaptação social dos comportamentos. 

A hiperlexia não é consequência de nenhum método de ensino, ou seja, a capacidade de ler da forma como se dá nesses casos não é algo ensinado, não há instruções para que a criança aja de tal forma. Essa criança simplesmente aprende a decodificar as palavras, a partir da identificação das letras e de seus agrupamentos.

Muitos acreditam que essa facilidade é boa para a criança e não é uma deficiência de leitura. Mas, é justamente por isso que seu diagnóstico, assim como o tratamento, ocorrem de forma tardia nesses casos, comprometendo o bom desenvolvimento infantil. Pois, essa condição pode estar associada a crianças com transtornos do neurodesenvolvimento (como autismo, por exemplo) ou distúrbio específico de linguagem. No entanto, a Hiperlexia pode ser um distúrbio isolado e não estar associada a outros transtornos ou distúrbios.

A Hiperlexia é observada em crianças que apresentam características como:
  • Habilidade precoce e autodidata em aprender outras línguas, ler palavras antes dos 5 anos e / ou um intenso fascínio por letras, números, logotipos, mapas ou padrões visuais;
  • Dificuldade significativa em compreender e desenvolver a comunicação com outras pessoas.
  • Vale lembrar, que como cada criança se desenvolve em um ritmo próprio, é possível que elas acabem revelando apenas algumas destas características ou então todas elas. Por isso, o mais indicado para um diagnóstico e tratamento corretos é buscar o acompanhamento profissional.

Superdotados e Hiperlexicos na escola:

Crianças com AH/SD ou hiperlexia em idade escolar devem vivenciar diversas situações de aprendizagem de forma a desenvolver suas habilidades e talentos. Isso significa implementar atividades que envolvam o pensamento criativo (produção de muitas ideias originais e variadas) e crítico, e que levem a criança a fazer conexões entre ideias, resolver problemas e levantar questionamentos. É importante, ainda, proporcionar à criança oportunidades para explorar mais amplamente um tema de seu interesse. Sob uma perspectiva efetiva, espera-se que a criança com altas habilidades/superdotada ou hiperlexia desenvolva suas habilidades interpessoais e de comunicação, autonomia, iniciativa, um autoconceito positivo, e uma compreensão do outro e seu ponto de vista.

Entende-se que as altas habilidades/superdotação e hiperlexia podem e devem ser consideradas um transtorno de aprendizagem, que se não for bem direcionado pode se tornar patológico. No entanto, é uma modalidade ao alcance de todas as crianças, já que  se encontram em pleno processo de desenvolvimento de suas atividades e aptos a desenvolverem suas potencialidades, uns demonstrando sua capacidade de uma maneira e outros de outra, porém todos evidenciam capacidades ou habilidades próprias e particulares. 


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Se usar cite a referência:

SOUZA NEVES, Regiane. Inclusão Escolar - Soluções Educacionais. Souza & Neves Edições. Clube de Autores. 1ª edição. São Paulo, 2023 (ISBN: 978-65-266-1262-0)