Entendendo o Transtorno de Processamento Sensorial


O processo de organização e interpretação por parte do nosso cérebro sobre as informações sensoriais do ambiente e do nosso próprio corpo tem o nome de INTEGRAÇÃO SENSORIAL, e é através dele que aprendemos a reagir a estímulos e a procurar outros levando-nos a conhecer o mundo.

O Transtorno de Processamento Sensorial (TPS) se trata de uma condição neurossensorial que pode estar presente em crianças, adolescentes, adultos e idosos e não é uma doença. Neste caso, tanto o cérebro, quanto o sistema nervoso apresentam dificuldades para processar estímulos do ambiente e os sentidos. Essa condição neurossensorial também conhecida como disfunção sensorial, é uma desordem neurológica caracterizada por causar dificuldades na integração sensorial, assimilação e acomodação das informações e conhecimentos, processamento e resposta às informações sensoriais acerca do ambiente e dos sentidos do próprio corpo do indivíduo com relação à audição, tato, olfato, paladar, visão e ainda, sentidos vestibular e proprioceptivo.

Muitas pessoas tem essa condição, mas como é pouco conhecida acaba sendo mascarada e diagnosticada como problemas físicos/biológicos ou até psiquiátricos como depressão, ansiedade, bipolaridade, fobia,  TOC entre outros.

Reclamar da luz, do som ou de odores, ter dificuldade para identificar letras, formas e cores semelhantes, ser exigente e seletivo com o tipo de comida que quer consumir, assim como apresentar resistência ao contato físico e incomodar-se com a claridade ou escuridão, podem ser algumas das características de pessoas com esta condição. Por se tratar de um tipo de transtorno, as pessoas (crianças, adolescentes, adultos e idosos) nesta condição, também podem apresentar, paralelamente, problemas emocionais, sociais e ainda sofrerem interferência no aprendizado e na educação, como ter depressão, ansiedade, ficarem mais agressivas, sentirem dificuldade para se relacionarem ou para fazerem parte de um grupo, por exemplo.

O Transtorno de Processamento Sensorial pode ser uma condição isolada, ou seja, tem prevalência estimada de 5% a 16% na população geral ou pode ser uma comorbidade do Transtorno do Espectro Autista, ou seja, autistas tem muita probabilidade de ter essa condição associada ao autismo, sendo entre 30% e 80% de prevalência. Aliás, crianças/pessoas com TDAH podem apresentar déficits no Processamento Sensorial, possibilitando o surgimento de respostas inadequadas tanto comportamentais como na aprendizagem, sugerindo que, além de haver correlação entre esses aspectos, o Processamento Sensorial é também uma dimensão a ser considerada e estudada como parte da sintomatologia do TDAH. Por este motivo o diagnóstico precisa ser realizado por profissional especialista no assunto.

Esse tipo de condição neurológica é caracterizada por:
  • Falha na detecção ou na interpretação da entrada sensorial do ambiente ou do próprio corpo, ou seja, sentir frio ou calor, cansaço, fome e as luzes, os sons e as atividades simples, pode ser mais desafiador;
  • Hipersensibilidade – a criança/pessoa precisa realizar maior esforço ou estar excitada para sentir qualquer tipo de estímulo, por isso, é comum ela ser agitada, estar sempre em movimento, gostar de barulho e cheirar tudo o que encontra;
  • Hiposensibilidade – a criança/pessoa tem mais facilidade para perceber os estímulos, à nível de as cores ficarem mais brilhantes e os sons, mais intensos, por exemplo. Neste caso, costumam ser mais seletivos com a comida, não gostam de barulho, nem de se sujar, são sensíveis à dor e reclamam de cheiros e da luz;
  • Intolerância a algumas roupas ou texturas, logo, precisam de vestes sem costura e que retirem as etiquetas, e acabam optando por tecidos que causem menor sensação de desconforto;
  • Aversão a alguns tipos de alimentos, devido à textura ou às cores;
  • Dificuldade para usar as habilidades motoras finas, como segurar o lápis ou a caneta, por exemplo;
  • Falta de adaptação para mudanças, como de atividades, de ambiente ou de casa.
Ambiente escolar para as alunos com TPS

Mudanças de ambiente, barulho, movimento das outras crianças, toques inesperados dos amigos podem sobrecarregar sensorialmente a criança com Transtorno Processamento Sensorial (TPS). Por isso, é necessário conversar muito com o aluno e também com os demais para que todos compreendam e se respeitem.

Como lidar com o TPS na escola:

Salas com grande intensidade de estímulos visuais e auditivos proporcionam distratores e assim uma maior dificuldade no aprendizado e concentração, por isso é necessário diminuir ruídos externos/internos. Não sobrecarregar verbalmente o aluno, aplicar frases curtas e simples. Na hora do lanche, colocar o aluno em um ambiente mais calmo e mais limpo. Se o aluno tiver seletividade alimentar é necessário oferecer alimentos que ele aceite. Os professores podem melhorar o conforto desses alunos e comportamento através do uso de atividades de integração sensorial. As atividades visam melhorar a capacidade da criança de se concentrar, manter a calma e aprender. Atividades sensoriais são dinâmicas que, além de divertidas, estimulam os diferentes sentidos: olfato, paladar, audição, tato e visão. Com as crianças, estas brincadeiras desenvolvem mais do que habilidades físicas, mas também a criatividade, a capacidade de raciocínio e a coordenação motora.


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Se usar cite a referência:

SOUZA NEVES, Regiane. Inclusão Escolar - Soluções Educacionais. Souza & Neves Edições. Clube de Autores. 1ª edição. São Paulo, 2023 (ISBN: 978-65-266-1262-0)