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Intervenção terapêutica em crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA)


A partir da complexa natureza etiológica do TEA, um tratamento bastante benéfico é a inclusão da criança em equipes de terapia e reabilitação interdisciplinar, compostas por especialistas de várias áreas, por exemplo, médicos, psicopedagogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, terapeutas comportamentais e psicólogos. As intervenções oferecem programas de educação especial, promoção das habilidades de linguagem/comunicação e interações sociais, treinamento dos pais e técnicas de mudanças do comportamento.

Alguns exemplos de programas terapêuticos concebidos para o TEA:

  • Psicoterapia para promover melhor qualidade de vida, autonomia, independência e inserção social e escolar, além de estabelecer uma melhora comportamental.
  • ABA (Análise de Comportamento Aplicado): esse método utiliza técnicas de ensino baseadas em evidências para incentivar comportamentos funcionais e reduzir os comportamentos prejudiciais ou que interfiram na aprendizagem. Mostrou-se capaz de melhorar as habilidades de comunicação, interação social e vocacional. 
  • DIR (Modelo Baseado nas Relações, Diferenças Individuais e Desenvolvimento): também chamado de floortime ou terapia do tempo, os pais e os terapeutas seguem a liderança da criança ao brincarem enquanto a dirigem para que se engajem em interações cada vez mais complexas.
  • TEACCH Autism Program: promove o engajamento nas atividades, a existência, a independência e a educação por meio de estratégias baseadas no que a criança tem de mais forte e nas dificuldades de aprendizagem. 
  • PECS (Picture Exchange Communication System), que permite a comunicação por meio do uso de troca de figuras, é um sistema de comunicação complementar e alternativo desenvolvido e produzido pela Pyramid Educational Consultants, Inc. O PECS foi desenvolvido em 1985 no Programa de Autismo de Delaware por Andy Bondy, PhD, e Lori Frost, MS, CCC-SLP. 
  • Orientar, de maneira uniformizada, os demais profissionais envolvidos, tanto de saúde como de educação, no cuidado e no manejo dos pacientes.
Atualmente não há tratamento farmacológico para o autismo. No entanto, muitos médicos recomendam medicação para os sintomas comportamentais. Existem estudos em andamento que, por enquanto, geraram evidências limitadas. Alguns tratamentos farmacológicos ainda não possuem evidências que favoreçam seu uso em crianças, porém em adultos há dados que comprovam o uso dos agentes serotoninérgicos, particularmente para comportamentos repetitivos. A fluoxetina parece ser a mais tolerada, dentre os estudos, porém não houve comparação direta de fluoxetina com outros agentes.

As pesquisas com risperidona e aripiprazol mostraram eficácia modesta no manejo de comportamentos repetitivos (nível de evidência), porém esses estudos se concentraram em indivíduos com altos níveis de irritabilidade e não está claro se os achados generalizariam a população de TEA mais ampla. Deve-se lembrar dos efeitos colaterais antes de iniciar o tratamento, e os mais comuns são ganho ponderal, hipercinesia, agitação e labilidade emocional.

O resultado de estudos preliminares com a ocitocina mostrou uma ação importante para os pacientes com déficits de cognição social (nível de evidência), mas ainda são necessários ensaios clínicos randomizados de grande escala em longo prazo.

Dessa forma, para cada comorbidade, apesar de não existir medicação para os sintomas centrais do TEA, pode-se tentar um tratamento farmacológico a fim de melhorar comportamentos específicos e assim trazer algum benefício para os sintomas centrais e ajudar na intervenção da equipe interdisciplinar.

Comorbidades importantes de tratamento são ansiedade, movimentos repetitivos estereotipados, sintomas do transtorno obsessivo-compulsivo, impulsividade, depressão, oscilações no humor, agitação, hiperatividade e agressividade.

As classes de medicamentos que podem ser usados no tratamento dessas comorbidades abrangem os antiepilépticos, antipsicóticos atípicos, estimulantes do sistema nervoso central (SNC), antidepressivos e estabilizadores do humor.

A partir da premissa de que a modulação das respostas inflamatórias no SNC poderia melhorar a sintomatologia do TEA, surgiram ensaios clínicos sobre o uso de células-tronco, incluindo a infusão de sangue do cordão umbilical autólogo ou células mononucleares da medula óssea autóloga, com resultados promissores, mas ainda incipientes. O emprego de fármacos imunomoduladores, como os esteroides, é outra proposta terapêutica a ser mais bem estudada, pois os resultados de um ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado com placebo foram encorajadores.

As propostas de intervenção nutricional, principalmente para crianças com seletividade alimentar são importantes. No entanto, as dietas com isenção de glúten e/ou caseína e a suplementação de vitaminas e ômega-3, carecem de fundamentação científica.


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É proibida a reprodução deste artigo ou parte dele sem prévia autorização da autora. Lei nº 9.610 de 19/02/1998, com alterações dadas pela Lei nº 12.853, de 2013. 

Se usar cite a referência:

SOUZA NEVES, Regiane. Transtorno do Espectro Autista: Conhecer, Diagnosticar, Intervir e Orientar. Souza & Neves Edições. Clube de Autores. 3ª edição. São Paulo, 2023 (ISBN: 978-65-5392-356-0)