Autismo e Rigidez no pensamento


Este é um resumo do capítulo do meu livro:

SOUZA NEVES, Regiane. Transtorno do Espectro Autista: Conhecer, Diagnosticar, Intervir e Orientar. Souza & Neves Edições. Clube de Autores. 1ª edição. São Paulo, 2019

A rigidez no pensamento se caracteriza basicamente por pensamento dicotomizado – tudo ou nada, bom ou mal – e pode permear em diversas situações como: relacionamento amoroso, relacionamentos sociais, situações de trabalho, política, religião, criação de filhos, etc. Não está somente vinculado ao autismo, porém é uma das características do autismo, comum em quase todos os diagnósticos. Essa característica está relacionada ao apego à rotinas, falta de imaginação e criatividade, resistência à mudanças, comportamentos restritivos ou obsessivos.

Seguir sempre o mesmo caminho, ir sempre aos mesmos lugares, brincar com o mesmo brinquedo, assistir o mesmo filme ou desenho, fazer suas atividades sempre na mesma sequência, realizar o mesmo trabalho do mesmo jeito todos os dias, etc. A alimentação pode ter um padrão também, como comer somente alimentos de uma cor, ou não misturar os alimentos no prato.

Seguir sempre a mesma sequência ou o mesmo “ritual” para realizar uma atividade passa segurança para pessoas com autismo. E eles gostam disso, gostam de ter previsibilidade do que irá acontecer! Algumas crianças/adolescentes ficam muito agitados, podendo até desenvolver comportamentos agressivos por causa de uma pequena mudança na rotina. Por isso é importante preparar a criança/adolescente com antecedência sempre que precisar alterar algo em sua rotina.

Uma das áreas afetadas pela rigidez do pensamento é a imaginação (criatividade): a criança/adolescente não consegue enxergar outras formas de brincar com seu brinquedo, não entende brincadeiras simbólicas, considera errado fazer uma sequência diferente da que está acostumada. E tudo isso prejudica seu convívio com outras pessoas e seu relacionamento social.

Outra área afetada, que possivelmente acompanhará a criança/adolescente até a vida adulta, é a dificuldade em compreender a linguagem simbólica. Expressões como “cair na estrada” ou “sair voando” são entendidas em seu sentido literal. Essa característica também está relacionada à falta de percepção de um comentário irônico ou sarcástico, o que faz parecerem pessoas ingênuas.

O autista na transição entre a fase da adolescência e fase adulta, pode achar que tem TOC ou manias exageradas, pode também se sentir ansioso ou depressivo por causa destes comportamentos, outra situação comum é o enfrentamento às figuras de autoridade onde tenta fazer valer seu posicionamento e não aceita opiniões e comandos.

Para minimizar este comportamento é importante criar estratégias para propor mudanças na rotina. É provável que na vida adulta ela ainda mantenha alguns rituais e manias, mas aprenderá a aceitar opiniões diferentes, pensar em um “plano B” para determinadas situações e quem sabe até achar soluções criativas quando necessário.

Prof. Dra. Regiane Souza Neves